
Imitação 1.13
Da resistência às tentações
Ninguém há tão perfeito e santo que não tenha, às vezes,tentações: não podemos viver totalmente isentos delas. Ainda que rudes e penosas, são, contudo, utilissimas quase sempre, porque nelas é que o homem se prova, purifica e instrui. Todos os santos passaram por muitos trabalhos e tentações e grande proveito colheram: os que, porém, não puderam suportar, foram reprovados e pereceram Não há comunidade tão santa e lugar tão retirado, onde não haja tentações e adversidades.
Acabada uma tribulação ou tentação, logo vem outra e sempre teremos alguma coisa que sofrer: porque perdemos o dom da primeira felicidade.
Não as poderemos vencer com lhes fugir somente: mas com paciência e verdadeira humildade tornar-se-emos mais fortes que todos os nossos inimigos.
Pouco aproveitará quem apenas as desvia exteriormente, sem lhe arrancar as raizes: ao contrário, mais depressa voltarão e sentir-se-á pior que dantes.
Pouco a pouco,ajudados por Deus, melhor as vencerás, com paciência e longanimidade, que com importuna violência e próprio esforço.
Toma, amiúde, conselho na tentãção e não trate com dureza ao que está tentado, antes, procura dar-lhe conforto, como desejarías que fizessem contigo.
A inconstância de espirito e a pouca confiança em Deus são o princípio de tentações perigosas.
Assim como as ondas jogam, de uma a outra parte, a nau sem governo, também as tentações agitam o homem remisso e pouco firme nos seus propósitos.
O fogo prova ao ferro e ao justo a tentação.
Ignoramos, muitas vezes,o que podemos e as tentações mostram o que somos.
Devemos, porém, vigiar, máxime no princípio da tentação: mais fácil é vencer o inimigo quando, não lhe consentindo entrar em nossa alma, lhe fazemos frente logo que bate ao limiar.
Donde veio alguém a dizer: resiste no começo, que tarde vem o remédio quando cresceu o mal, com a longa demora.
Com efeito, primeiro se oferece à alma um simples pensamento, mais tarde uma persistênte imaginação, depois, o deleite, seguindo-se-lhe os afetos desordenados e finalmente o cosentimento.
E quanto mais negligênte for alguém na resistência, tanto mais fraco se tornará cada dia e mais forte seu adversário.
E assim, pouco a pouco, de todo nos invade o inimigo quando desde o inicio não se lhe resiste.
Uns são mais rudemente tentados no começo da conversão, outros no fim, muitos quase por toda a vida: alguns apenas o são levemente, segundo a sabedoria e a equidade da providência divina, que pondera o estado e o mérito dos homens e tudo ordena para a salvação dos seus escolhidos.
Por isso, quando tentados, não desesperemos, antes, com maior fervor, peçamos a Deus que, em nossas tribulações, se digne de nos ajudar e, segundo diz São Paulo, ele fará que tiremos da tentação tal força que a possamos vencer.
Humilhemos, pois, as nossas almas debaixo da mão de Deus, em qualquer tribulação ou provação, porque ele o salvará e engrandecerá aos humildes de espirito.
Nas tentações e provações vê-se quanto o homem tem aproveitado: nelas se colhe maior mérito e se patenteia melhor a virtude.
Não é grande coisa um homem ser devoto e fervoroso, quando nada o molesta; mas, se no tempo da adversidade sofre com paciência, dá grande esperança de aproveitamento.
Alguns vencem as grandes tentações e são, muitas vezes, levados de vencidas pelas pequenas e quotidianas:a fim de que, humilhados, não presumam de si mesmos grandes coisas, pois são tão fracos nas pequenas.
AVE MARIA EM LINGUA PORTUGUESE
As Vias do Espirito é uma pequena semente da palavra de Deus que,
transportada pelo vento do Espirito, se assenta aonde
Ele quer e, somente Ele, rende fecundas as almas aonde germína.